quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

algo estranho*


Ela estava com a amiga na escola, e as aulas eram sem duvida o que menos lhes apetecia, foram então vaguear pelos corredores da escola. Até porque o professor nem tinha chegado e a turma estava normalmente barulhenta. Já junto aos cacifos elas conversavam, sempre com aquela habitual cumplicidade. Rapazes, moda, cusquices, típica conversa que nunca se esgota. Mas algo chamou a atenção das raparigas, pois de repente o sossego do corredor tornara-se ensurdecedor , uma correria sem fim, parecia que de uma catástrofe se tratasse. Daquela confusão destaca-se uma funcionária, esta bastante querida a uma das meninas, que num ápice lhe diz "Tens de vir(...)ele foi atingido por um tiro, ele precisa de ti". O horror espalhou-se, e tão rápido agia como pensava em inúmeras coisas "Mas porquê é que ele está aqui? Porquê ele? E que vou eu fazer? Porquê eu?", a rapariga de tanta aflição, nem desceu as escadas mal o viu, ali agarrado ao braço alvejado e cheio de sangue, saltou o patamar, e aos tropeções chegou a ele, nem pensou mais em rancores, agarrou-o e o rapaz também não se ficou. Agarrava-a com força tal, que era impossível distinguir se era dor ou saudade. Nunca mais o largou, ensanguentada, o acompanhava para o local mais calmo onde se pudesse sem alarido, tratar dos primeiros socorros. Ele chorava de uma forma que nunca o viu chorar, estava de armas baixas, orgulho nem sequer existia. Abraçava-se a ela, beijava-a, parecia um pedido de desculpas e quem sabe talvez fosse, talvez estivesse surpreendido pela forma como ela o acolheu mesmo após intrigas do passado. O tratamento doloroso e demorado começara, ela agarrou a mão dele com força e disse-lhe"Aperta-me, faz o que quiseres, estou aqui contigo!". Apesar de sofrimento, dor, sangue, lágrimas, a rapariga sentia-se feliz, estava ali com ele, estavam juntos, e ele dependia tanto dela como ela dele, estavam precisamente ao mesmo nível.

Acordo, agarrada ao meu próprio braço este quase imóvel, olhei a minha volta, e percebi rapidamente que estava a sonhar, sonho no mínimo estranho, mas não passa exactamente disso, de um sonho invadido de memórias perdidas do passado que já nada pertencem ao presente, como disse apenas memórias...

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